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Para John Kerry, nações precisam acelerar transição energética porque estão no ritmo abaixo do necessário para enfrentar a crise climática

Estabelecer um mercado de carbono robusto pode apressar mitigação dos efeitos danosos da crise climática, defendeu ao participar da Conferência Internacional Amazônia e Novas Economias, realizada em Belém (PA).

O ex-secretário de Estado dos EUA e ex-senador John Kerry, que até o início de 2024 era “enviado especial para o clima” do governo de Joe Biden, considera que a humanidade “está no caminho errado” em temos do ritmo em que busca manter o nível de aquecimento global abaixo de 1,5°C, conforme os termos definidos no Acordo de Paris, em 2015. E que estabelecer um mercado de carbono global seria preponderante para enfrentar a crise climática com mais rapidez.

Segundo Kerry, o aquecimento do planeta atinge um patamar superior ao acordado em Paris, o que “vai ser catastrófico a nível mundial. Já vemos destruição em massa, florestas afetadas, como a amazônica. Vemos secas e enchentes absurdas, pessoas mudando de lugar. Já são 39 milhões de pessoas consideradas refugiados do clima. Há o derretimento das calotas polares. É terrível e ameaçador para a nossa segurança”, afirmou em sua palestra no segundo dia da Conferência Internacional Amazônia e Novas Economias, em Belém (PA).

Entrevistado por Joaquim Levy, ex-ministro da Fazenda e diretor do banco Safra, Joaquim Levy, e por Shari Friedman, diretora do Eurasia Group, John Kerry, hoje na iniciativa privada, participou da conferência por streaming de vídeo e defendeu que o mundo precisa acelerar a transição energética para substituir combustíveis fósseis por recursos de energia renovável. Segundo ele, é preciso “empoderar qualquer iniciativa que ajude a fazer a transição energética” (…) Estamos chegando ao ponto que quanto mais rápido melhor empregarmos mais energia renovável e deixarmos outras questões (que dificultam isso) de lado”, disse.

“A transição energética é para melhorar o mundo, torna-lo mais justo, mais equitativo. Agora temos que tomar decisões mais focadas para ganhar esta guerra (contra as mudanças climáticas). Nos últimos anos vimos um progresso incrível em termos de tecnologia (em prol da expansão da energia renovável) e temos que acelerar este processo”, afirmou, acrescentando que “é o momento para se tomar decisões políticas para um futuro melhor. Anualmente, 7 milhões de pessoas morrem devido às condições ruins do ar que respiramos. Temos que reduzir esta taxa de mortalidade, viver melhor” atacando as causas desses problemas.

Desde Acordo de Paris, Kerry avalia que “já fizemos progressos. Cada nação definiu seu próprio plano para lidar com as mudanças climáticas. O Acordo Paris permitiu cada uma ter seu plano e efetivar sua luta contra os efeitos climáticos”. Sobre o Brasil, John Kerry disse que a “chave para Brasil é construir uma bioeconomia porque tem um bem incrível e poderoso, que são as florestas”, mas deve reduzir o desmatamento porque ele ainda é expressivo. Este é um alto risco porque, disse, as florestas pelo mundo perderam capacidade de consumirem CO2, na comparação com períodos anteriores.

Mercado de carbono robusto

John Kerry defendeu “colocar preço no carbono”. Estabelecer um mercado de carbono robusto, para viabilizar a mitigação das emissões, iria gerar “um impacto profundo nesta crise climática e reduzi-la de forma mais rápida. Seríamos capazes de gerar soluções alternativas ao carbono muito mais rápido”, afirmou.

Este tema deverá ser evidenciado na COP30, cúpula da ONU sobre mudanças climáticas, que será realizada ano que vem no Brasil, onde também os participantes terão que abordar iniciativas para que cada segmento da sociedade se adapte às mudanças climáticas, para agir para mitigar seus efeitos, disse o palestrante.

Para John Kerry, neste esforço, as nações precisam envolver o apoio do setor privado. “Ele é crítico para ganharmos esta batalha. Nenhum governo tem dinheiro suficiente para realizar toda a transição que queremos”, disse. Além disso, se o setor privado não participar deste esforço arcará com custos crescentes. “Se não fizermos agora (a aceleração da transição energética) vai custar mais caro para o setor privado”, ressaltou Kerry, dizendo que há teses de especialistas sobre o tema. Inclusive, acrescentou que investidores e empresas podem ganhar dinheiro com a transição energética. “Um fundo de pensão pode investir (neste segmento) com bom retorno financeiro”, em vez de deixar seus recursos em uma aplicação financeira tradicional. A produção de minerais críticos e estratégicos para a transição energética também foi apontada como positiva.

Sobre a Conferência

A Conferência Internacional Amazônia e Novas Economias é organizada pelo Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) e tem a parceria do Governo do Pará e é apresentada pela Vale e tem como patrocinadores na categoria Master, as empresas BHP, Hydro; como patrocinadores Belém, o Itaú e a MRN; como patrocinador Gestão de Resíduos, a empresa Alcoa; como patrocinadores Sustentabilidade, o Conselho Indígena Mura e a Potássio Brasil. Já na categoria Compensação de Carbono, a Conferência tem como patrocinador a Ambipar. A Latam é a companhia aérea oficial do evento.

Jonh Kerry também comentou que a eleição do republicano Donald Trump para a presidência dos EUA não deverá comprometer o esforço global contra as mudanças climáticas, já que esta questão já está sendo endereçada pelos diversos países, estando, inclusive, contemplada em legislações.